domingo, 12 de junho de 2011

DA UTOPIA 3 : POLÍTICA E POESIA



Esses dias numa mesa sobre poesia marginal e movimento estudantil na UFMG, fui injusto. Fiz a crítica clássica ao CPC – Centro de Cultura Popular – que buscava ensinar (ou doutrinar) o “povo” como fazer a revolução e tomar o poder. Mário Faustino já falava que uma das funções da poesia  é registrar e modificar seu tempo. E naquele momento, entre 61 e 64, a maioria dos intelectuais acreditava na tomada do poder pelas classes operárias e pelo campesinato, seguindo as cartilhas marxistas e lutaram para isso. A arte vinha a reboque de uma finalidade política.


 Assim era o contexto daquela época. Lutaram por uma utopia, reprida violentamente pelo golpe militar. A poesia e o teatro gerados no CPC eram didáticas, para serem entendidas pelo “povo”, de quem os intelectuais se julgavam porta vozes. Não fizeram uma boa poesia, nem o povo comprou a briga. Mas foram guerreiros. A idéia do CPC podia ser perfeitamente adotada até hoje, com seus circuitos universitários e espetáculos em portas de fábricas e no interior. Poderia se fosse voltado mais para a troca que para uma pretenciosa “aula”. Algo como um CPCEP.


Dez anos depois, o mundo, o brasil, eu e você, já não éramos mais os mesmos. Apesar do envolvimento com o movimento estudantil ( de todo modo o governo militar era o inimigo a ser batido ), a crença numa revolução social que derrubasse os milicos era algo distante. O foco naquele momento era viver intensamente o presente e tentar mudar as instituições, mudando a si próprio, num processo de auto conhecimento e libertação dos preconceitos. Brigava-se pela mudança de comportamento contra a apatia de uma cultura voltada exclusivamente para o consumo, acomodada, sem discernimento e vitalidade alguma para mudar o status quo. Isso gerou uma poética do cotidiano, de registrar o dia a dia dos dias, entre o crítico e o cômico. Vida e poesia eram as duas faces da mesma moeda. Isso a tornou muito popular.



O movimento estudantil à época da poesia marginal de 72 a 79, no Rio de Janeiro, desmobilizado pela repressão violenta, retomava aos poucos, na distensão política de João Figueiredo, até explodir nas Diretas Já, nos anosa 80, como os midiáticos “caras pintadas”.

Hoje o sentimento de abulia numa sociedade de consumo regulada pelo mercado que a tudo engole e vomita a vida travestida em mercadoria, é o estopim para novas mobilizações. Hoje a internet, que democratizou a informação e multiplicou os contatos, convoca a galera, fazendo o papel dos panfletos rodados em mimiógrafo. Aquela letargia social já detectada no ínicio dos anos 70 e da poesia marginal, foi globalizada. Troca-se sonhos por quinquilharias eletrônicas, a madeira  de lei da utopia pelos espelhinhos eletrônicos. O inimigo não é mais um general boçal mas o rosto invisível, impalpável e inodoro do mercado. O espantalho do governo miltar se transmuta no agrotóxico neoliberal, infinitas vezes mais violento e mortal. 

Mas a sensação de sufoco, esse mal estar crescente, é tão imenso que mais cedo ou mais tarde, vai estampar nas paredes o retrato falado de quem nos oprime. 






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