*****************
Sou de uma geração utópica. Nasci em 1951. vivi o movimento
estudantil e o movimento hippie de 17 a 21 anos. Nunca consegui me desvencilhar
dessa mania de mudar o mundo. Talvez por me sentir desconfortável na camisa de
força da gramática e querer reinventar o jeito de se expressar e se comunicar
com as pessoas, talvez por querer tomar pra si a luta contra as injustiças do
mundo.
Sei que minha vida toda se pautou por essa tentativa de
fazer as coisas do jeito que acho melhor. Isso começou com a utilização de
meios artesanais – mimiógrafo – para publicar meus poemas, depois distribuídos
de mão em mão. O que era um projeto para ter autonomia na realização e
distribuição de um trabalho, acabou por virar exemplo de independência do
processo tradicional do livro.
O mundo institucional nunca me atraiu. Creio que ele é o
responsável por essa merda que aí está.
Mas respondendo mais objetivamente se a poesia é uma forma
de resistência, acredito que sim. O fato do poeta recriar a linguagem, torna-o
um exiled on main street, uma pessoa para quem as regras e os cânones devem
estar sempre sendo questionados e ultrapassados. E isso, é claro, contamina a
forma de ver, pensar e agir no mundo. Em contextos muito conservadores e
repressivos, essa característica básica do poeta se exarceba, tornando o poeta um combatente na linha
de frente contra ditaduras e tiranias diversas. No mundo mercantilizado que
vivemos, o poeta
deve estar focado na luta desesperada em busca do humano em todas as relações.
E talvez a melhor arma seja justamente a poesia, a música, a dança, as artes em
geral, que transtornam, subvertem a lógica do capital e do consumo desenfreado
e recola o ser humano diante das suas emoções profundas e seu básico instinto.
Chacal,
ResponderExcluirRealmente, acho que há muita merda por aí. Essa dependência do "mercado", a sujeição à busca do que pode ser vendido ou do que será de agrado dessa crítica careta pra caralho é o que torna tudo tão mediocre. Claro que existe gente boa também, isso é indiscutível. Mesmo assim, me impressiona o quanto de coisa-ruim encontramos, principalmente na música e em outras artes mais dependentes da mídia, pois, afinal de contas, o poeta num país de não-leitores termina sendo um pouco mais independente...
É a mesma mída que coloca os BBBs como celebridades em patamar de igualdade a artistas (mesmo que estes por muitas vezes não tenham talento algum). É a exposição que torna alguém digno de ser visto, ouvido, lido etc.
Para mim, essa busca de autonomia é essencial. A internet é uma porta aberta fora de série para isso. Quando aprendermos de verdade a usá-la será como descobrir o fogo.
Excelentes considerações, Chacal. Meu conterrâneo, Alberto da Cunha Melo sempre via a poesia como uma grande penetra no mundo capitalista, uma senhora intrusa que fugia à regra e subvertia a lógica do consumo, sendo fim para si própria. Em qual revista estarão essas suas palavras?
ResponderExcluirAbraços,
Caju.
Mandou bem tricolor!
ResponderExcluirQuanto de mim tem nas suas frases...
ResponderExcluirMudar o mundo..."É preciso mudar a vida" dizia Rimbaud...e hoje tento mudar lá dentro de mim e creio que é uma porta para um outro foco.
Abs