terça-feira, 5 de outubro de 2010

BLOOKS / PAPO CHACAL

eba ! mais notícia do livro. grato toinho. grato elisa.

Chacal à margem



Dica Blooks
Por Toinho Castro em 05.10.2010


As poesias de Chacal fazem parte da lista de coisas que eu li há muito tempo. Eu tinha esse pequeno livro, Drops de abril, da coleção Cantadas Literárias, da Brasiliense. Essa coleção era feita de gente como Paulo Leminski, Alice Ruiz, Caio Fernando Abreu… O livrinho do Chacal era o que eu mais gostava (tinha dele também o Comício de tudo). Drops de Abril para mim era um mundo novo de poesia, devia ser pra muita gente naqueles tempos. Chamavam de Poesia Marginal… para mim estava ótimo! Eu estava na faculdade e aquilo tinha ares de contracultura, de irreverência. Era também o Rio de Janeiro. Eu morava no Recife e aquele livro era uma estranha projeção do Rio de Janeiro, era quase um super 8 projetado na minha parede.


Os anos passaram, de maneira bem irrevogável, graças a Deus, e eu não tenho mais Drops de Abril. Sumiu… vai entender, livros somem. Para onde eles vão não se sabe. Espero que para um lugar bom. Assim fiquei sem aquela leitura tão nova de Chacal, ainda que seus poemas me viessem à mente vez por outra. Tem esse poema que eu gosto muito:
Espere, Baby
espere baby não desespere
não me venha com propostas tão fora de propósito
não acene com planos mirabolantes mas tão distantes
espere baby não desespere
vamos tomar mais um e falar sobre o mistério da lua vaga
dylan na vitrola dedo nas teclas
canto invento enquanto o vento marasma
espere baby não desespere
temos um quarto uma eletrola uma cartola
vamos puxar um coelho um baralho e um castelo de cartas
vamos viver o tempo esquecido do mago merlin
vamos montar o espelho partido da vida como ela é
espere baby não desespere
a lagoa há de secar
e nós não ficaremos mais a ver navios
e nós não ficaremos mais a roer o fio da vida
e nós não ficaremos mais a temer a asa negra do fim
espere baby não desespere
porque nesse dia soprará o vento da ventura
porque nesse dia chegará a roda da fortuna
porque nesse dia se ouvirá o canto do amor
e meu dedo não mais ferirá o silêncio da noite
com estampidos perdidos.


Bonito, né? Isso é coisa que volta e meia eu digo para mim mesmo: Espere, baby, não desespere… Hoje, há alguns bons anos, na verdade, sou morador do Rio de Janeiro e até já cruzei com o Chacal em alguma rua por aí. Mas nunca mais li seus poemas… só de memória, e agora que voltei a ser curioso das coisas que ele escreve. Porque…
Porque me caiu da Blooks esse livro, essa oportunidade de reencontrar o jeito de escrever de Chacal. Esse romance/autobiografia chamado Uma história à margem, da Editora 7Letras, traz de volta os ventos bons de uma cultura jovem, moderna, cheia de alegria e ousadia que atravessou o Rio de Janeiro,e também o Brasil. É o relato de uma época que virou mitologia, aqueles anos 70 e 80. Nomes como Circo Voador, Blitz… coisas lendárias mas ainda muito vivas no imaginário geral e real.
No meio disso tudo, sustentando isso tudo, a poesia. O jeito poético. O jeitinho poético de ultrapassar, transcender e abalar. Chacal escreve muito bem, sua prosa afinada, contando boas histórias. Não há nostalgia porque tudo ali aponta para frente, para mais. Ainda estou lendo o livro e deixo aqui de recomendação, para quem quer conhecer ou reconhecer um período recente e fértil da cultura brasileira. Para mim está sendo um reencontro.
ps. a coleção Cantadas Literárias vale um post. Você tem aqueles livrinhos?


veja uma entrevista legal = http://blooks.com.br/