domingo, 4 de março de 2012

para uma revista a pedido da célia pedrosa




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Sou de uma geração utópica. Nasci em 1951. vivi o movimento estudantil e o movimento hippie de 17 a 21 anos. Nunca consegui me desvencilhar dessa mania de mudar o mundo. Talvez por me sentir desconfortável na camisa de força da gramática e querer reinventar o jeito de se expressar e se comunicar com as pessoas, talvez por querer tomar pra si a luta contra as injustiças do mundo. 
Sei que minha vida toda se pautou por essa tentativa de fazer as coisas do jeito que acho melhor. Isso começou com a utilização de meios artesanais – mimiógrafo – para publicar meus poemas, depois distribuídos de mão em mão. O que era um projeto para ter autonomia na realização e distribuição de um trabalho, acabou por virar exemplo de independência do processo tradicional do livro.
O mundo institucional nunca me atraiu. Creio que ele é o responsável por essa merda que aí está.
Mas respondendo mais objetivamente se a poesia é uma forma de resistência, acredito que sim. O fato do poeta recriar a linguagem, torna-o um exiled on main street, uma pessoa para quem as regras e os cânones devem estar sempre sendo questionados e ultrapassados. E isso, é claro, contamina a forma de ver, pensar e agir no mundo. Em contextos muito conservadores e repressivos, essa característica básica do poeta se exarceba, tornando o poeta um combatente na linha de frente contra ditaduras e tiranias diversas. No mundo mercantilizado que vivemos, o poeta deve estar focado na luta desesperada em busca do humano em todas as relações. E talvez a melhor arma seja justamente a poesia, a música, a dança, as artes em geral, que transtornam, subvertem a lógica do capital e do consumo desenfreado e recola o ser humano diante das suas emoções profundas e seu básico instinto.