Esses dias numa mesa sobre
poesia marginal e movimento estudantil na UFMG, fui injusto. Fiz a crítica
clássica ao CPC – Centro de Cultura Popular – que buscava ensinar (ou
doutrinar) o “povo” como fazer a revolução e tomar o poder. Mário Faustino já
falava que uma das funções da poesia é registrar e modificar seu tempo. E
naquele momento, entre 61 e 64, a maioria dos intelectuais acreditava na tomada
do poder pelas classes operárias e pelo campesinato, seguindo as cartilhas
marxistas e lutaram para isso. A arte vinha a reboque de uma finalidade
política.
Assim era o contexto daquela época. Lutaram por uma utopia, reprida
violentamente pelo golpe militar. A poesia e o teatro gerados no CPC eram
didáticas, para serem entendidas pelo “povo”, de quem os intelectuais se
julgavam porta vozes. Não fizeram uma boa poesia, nem o povo comprou a briga. Mas
foram guerreiros. A idéia do CPC podia ser perfeitamente adotada até hoje, com
seus circuitos universitários e espetáculos em portas de fábricas e no
interior. Poderia se fosse voltado mais para a troca que para uma pretenciosa
“aula”. Algo como um CPCEP.
Dez anos depois, o mundo, o
brasil, eu e você, já não éramos mais os mesmos. Apesar do envolvimento com
o movimento estudantil ( de todo modo o governo militar era o inimigo a ser
batido ), a crença numa revolução social que derrubasse os milicos era algo distante. O foco naquele momento era viver intensamente o presente e tentar mudar as
instituições, mudando a si próprio, num processo de auto conhecimento e
libertação dos preconceitos. Brigava-se pela
mudança de comportamento contra a apatia de uma cultura voltada exclusivamente para o consumo, acomodada, sem
discernimento e vitalidade alguma para mudar o status quo. Isso gerou uma poética do
cotidiano, de registrar o dia a dia dos dias, entre o crítico e o cômico. Vida e poesia eram as duas faces da mesma moeda. Isso a tornou muito popular.
O movimento estudantil à
época da poesia marginal de 72 a 79, no Rio de Janeiro, desmobilizado pela repressão violenta, retomava aos poucos, na distensão
política de João Figueiredo, até explodir nas Diretas Já, nos anosa 80, como os midiáticos
“caras pintadas”.
Hoje o sentimento de abulia
numa sociedade de consumo regulada pelo mercado que a tudo engole e
vomita a vida travestida em mercadoria, é o estopim para novas mobilizações. Hoje a internet, que democratizou a informação e
multiplicou os contatos, convoca a galera, fazendo o papel dos panfletos rodados em mimiógrafo. Aquela letargia social já detectada no ínicio dos anos
70 e da poesia marginal, foi globalizada. Troca-se sonhos por quinquilharias
eletrônicas, a madeira
de lei da utopia pelos espelhinhos eletrônicos. O inimigo não é mais um general
boçal mas o rosto invisível, impalpável e inodoro do mercado. O espantalho do
governo miltar se transmuta no agrotóxico neoliberal, infinitas vezes mais
violento e mortal.
Mas a sensação de sufoco, esse mal estar crescente, é tão imenso que mais cedo ou mais tarde,
vai estampar nas paredes o retrato falado de quem nos oprime.
Não saquei qual foi a crítica injusta?
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