DA UTOPIA 2
ALIMENTAÇÃO
a briga que
hoje se vê entre ambientalistas e o agronegócio, vem lá de trás. quando nos
anos 60 se quebrou tudo, uma das pedras atingiu o templo dos hábitos
alimentares. não comer carne e açúcar eram regras básicas. por quê ? porque
nosso organismo não é feito pra isso. é como usar um programa que seu sistema
operacional não leia. desrespeitar isso, é ferir nossa natureza e gerar doenças
sem fim.
nos anos
60, um movimento gigantesco de jovens no mundo inteiro quis mudar com tudo
isso. abandonando as cidades poluídas, carcinadas, voltando a cuidar da terra e
do corpo. vivendo em comunidades onde plantavam o que comiam, respiravam fundo
e dançavam. a luta foi dura contra um sistema patriarcal milenar, apoiado na
tradição, na família e na propriedade. briga que se espraia até nossos dias.
como será o
novo código florestal? já viveríamos num gigantesco deserto de bois e pastos,
de terra enxovalhada de agrotóxicos, não fosse aquela percepção psicodélica
despertada há cinqüenta anos. fizeram de tudo para, como se diz “desconstruir a
imagem” do movimento. a imprensa chamando de bicho grilo, riponga, natureba e
outros achincalhes. talvez fosse preciso adequar os novos hábitos à linguagem
do mercado. encarar o mundo de frente, negociar com ele. então os hippies se
transmutaram em ambientalistas, a comida natural em produtos orgânicos e as
comunidades no campo em economia auto sustentável. a luta continua.
SAÚDE,
DISCERNIMENTO, ENTUSIASMO
quando se
fala em utopia, pensa-se no inatingível, coisa de maluco. é mais fácil manter
sua vidinha padrão, com pequenos deslizes, justificáveis com ‘todo mundo faz
assim”, que embarcar numa viagem sem volta, atrás do que é só conjectura.
muitos não sabem nem como zarpar, que ônibus pega, em que estação. não tem no
goggle maps.
um bom início
é a alimentação. uma vez tive um sonho. sonhei com um gigantesco olho vermelho
e seco. era o meu olho, cego, inútil. resolvi parar de me intoxicar. aprendi a
macrobiótica. e fui viajar na dieta vegetal na casa dos meus pais, pequena
burguesia comedora de açúcar, leite, ovos, que do boi, comia das carnes nobres
aos miúdos todos. tinham boas intenções e ultrapassadas noções de saúde. minha
primeira grande transgressão foi invadir o fogão da casa para preparar minha
alimentação. foi uma heresia, um espanto. fui perdendo peso. dias de arroz.
quase levitava. um faquir da dor no reino do excesso e da fartura. era eu me
modelando. aquele olho seco nunca mais me assombrou.
inventei um
dístico: saúde, discernimento, entusiasmo. tudo parte da saúde. do natural e
potente funcionamento do organismo. o corpo na plenitude do seu equilíbrio
térmico. sem gerar, através da má digestão, fermentação, putrefação
cancerígena. radical? sim, um esporte radical. e solitário. isso é o início de
tudo. base para separar o joio do trigo e escolher o caminho a tomar. em uma
palavra: discernimento.
por muito
tempo acreditei que a droga, o desregramento dos sentidos, poderia soprar no
meu ouvido, a trilha a seguir no meio do nevoeiro. vozes de santos, brujos,
orixás. delegava uma responsabilidade que a mim cabia. dentro do nevoeiro, toda
sibila era viável. mas não existe milagre ou iluminação instantânea. existe
você e o mundo. e é preciso que se apresentem um ao outro. isso acontece quando
você começar a pisar com o pé no chão e olhar com o olho vivo de quem quer
jogo. aí o mundo se apresenta e você ganha um parceiro, um amigo, um aliado. e
você define o que quer. e desenha o caminho. miragens, simulacros
fantasmáticos, aparecerão sempre, por supuesto. mas com os pés no chão, ar nos
pulmões, sol na língua, você luta e vence. com todo entusiasmo. afinal você pertence a uma estirpe
de guerreiros.
hasta la victoria !
hasta la victoria !
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