segunda-feira, 16 de julho de 2012

crítica pádua fernandes

fiquei muito feliz com a crítica de pádua fernandes sobre minha peça. coisa de quem entende das coisas. crítica única, já que a peça é muito fora da caixinha p/ a crítica convencional. mas o que importa é o abraço sincero dos amigos, conhec...idos e desconhecidos de várias gerações q tem ido ver. as três ou quatro palavras de “valeu. me amarrei. me dá saudade de um tempo q não vivi”. “legal vc ter sobrevivido pra contar”. a crítica do pádua, só dá força para a escolha q fiz há muito tempo: chegar ao outro através da palavra potente, começando com a escrita, depois a falada, a entoada e agora a encenada. “o homem é o desenvolvimento da sua linguagem” (j. salomão).
pra quem não viu, são as últimas duas semanas no sérgio porto (até 29/07). sex sáb 19 hs dom 18 hs. cheguem cedo. 35 lugares. que venham novas temporadas. estou aprendendo.
 
                                                    foto: cafi.


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Chacal, a poesia e o duplo
Creio que há poetas melhores do que Chacal, porém não sei de ninguém que seja mais poeta do que ele. É certo que viveu também de música, principalmente produção de rock, e de outros ofícios artísticos. Não obstante esses outros afazeres, ele é um exemplo de alguém que se dedicou a escrever, publicar, produzir, encenar poesia, e abrir espaço para os versos de outros.

Raríssimo caso de poeta não ressentido com o mundo acadêmico, já o vi dizer mais de uma vez que não vê problema em ser criticado ou em ser pouco estudado naquele meio. Lembro de um jantar em que um mau poeta-músico reclamou do pequeno número de teses sobre si mesmo; chegou ao ponto de queixar-se de uma resenha favorável de certa professora, por não ter conseguido entender o texto - embora percebesse que era positiva!

Faço notar que a resenha era perfeitamente inteligível, o mau poeta-músico é que tinha problemas de leitura. Reclamou, em seguida, que a universidade deveria abandonar os consagrados e apoiar os
escritores novos. Chacal, muito elegante, ouviu tudo e respondeu calmamente que não achava que esse fosse o papel da universidade...
Em Uma história à margem (Rio de Janeiro: 7 Letras), que já tenho mas ainda não li, Chacal propõs-se a escrever um romance autobiográfico. É esse livro que está sendo levado aos palcos, no exercício perigoso de retratar-se duplamente, pois não só Chacal escreveu sobre si, como interpreta a si mesmo em cena.

Vi o espetáculo ontem no SESC Copacabana. Chacal é dirigido por Alex Cassal, que assina com ele a dramaturgia. O poeta é o único artista no palco, mas quem decide pela poesia não pode ter medo... E Chacal, que tanto se apresentou em público, e tanto fez no CEP 20.000, está mais do que à altura desses riscos. Poesia também é risco, por sinal, como lembraria Augusto de Campos, que é citado no espetáculo, embora Charles Peixoto e Waly Salomão, companheiros de geração (e, muitas vezes, de estética, ao contrário dos concretistas, cujo projeto é muito diferente), estejam - como deveria ser - bem mais presentes.
A encenação é tão simples quanto eficaz: bananas, a barba de Allen Ginsberg, alguns lps, folhas, um megafone, batom, um pano azul que serve de ondas e de parangolé são alguns dos poucos elementos com que Chacal retrata as décadas de 1970 a 1990 (principalmente), de que ele foi um dos personagens. Os mimeógrafos, o Circo Voador, o CEP 20.000 estão presentes, assim como a praia, as drogas, as prisões. Trata-se menos de uma poesia que se quer fazer vida do que uma vida que se entende como poesia.

Chacal fala, declama, pula, dança e canta (principalmente samba) e não há instante que sugira que o poeta e performer esteja a fazer pose. Nota-se que ele não quer se institucionalizar, o que seria fatal para sua poética e sua utopia.
Mesmo quando a poesia não é tão boa assim, presa a trocadilhos sonoros (Ginsberg, invocado mais de uma vez, foi capaz de livros muito diferentes - e muito bons - como o Uivo, o Kaddish e América; não há essa variedade nem mesmo em Drops de abril), o corpo de Chacal habita-a e torna-a credível como texto teatral.

Dois dos graves acidentes que sofreu, e que poderiam tê-lo matado, são retratados sem autocomiseração alguma no espetáculo. Vejo nisso a questão do duplo: Chacal é, entre outras coisas,
um sobrevivente, e sua trajetória fez-me pensar que a poesia tem uma vida tão acidentada quanto a dele, e ela também resiste na a
legria de fazer.

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