uma
palavra
escrita é uma
palavra não dita é uma
palavra maldita é uma
palavra
gravada como gravata
que é uma palavra
gaiata como goiaba que
é uma palavra gostosa
ÓPERA DE PÁSSAROS
a objetividade da fotografia é uma
falácia
erram os que acham que ela retrata o
real.
o que há é que quando o fotógrafo
diz
olha o passarinho! uma ave de asas
oblongas
sai de dentro do olho da câmera
com uma paleta de cores
e um embornal de pinceizinhos.
sobrevoa a cabeça do
fotógrafo
sobrevoa a cabeça do fotógrafo
e pousa sobre seu
ombro esquerdo.
de lá, pinta a cena.
em suma,
a fotografia é uma ópera de pássaros.
BIRD OPERA
the objectivity of photography is a fallacy
those who think it portrays reality are wrong.
the truth is when the photographer says
- watch the birdie!
an oblong-winged bird
emerges from the camera’s eye
with a pallette of colors
and a feedbag full of paintbrushes.
hovering above
the photographer’s head
hovering above the photographer’s head
it alights on
his left shoulder.
once there, it paints the scene.
in short,
photography is a bird opera.
SETE PROVAS E
NENHUM CRIME
havia a mancha de
sangue no jaleco
e nenhum corpo
havia o olhar rútilo,
o rosto crispado
e nenhum motivo
havia o cheiro
impregnado no copo
e nenhuma digital
havia o vírus, o
bilhete, a arma branca
e nenhum assassinato
havia em vão a
confissão
e nenhum ilícito
havia a cadeira de
rodas vazia
e nenhum suspeito
havia um gato
emborcado no aquário
e peixe nenhum
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SEVEN CLUES AND NO
CRIME
the bloodstained coat
and no body
the fiery look, the hardened face
and no motive
the poisoned cup
and no prints
the virus, the note, the dagger
and no murder
the confession in vain
and no crime
the empty wheelchair
and no suspect
in the aquarium, the cat upside down
and not a single
fish
DESABUTINO
quem quer saber de um poeta na idade
do rock
um cara que se cobre de pena e letras lentas
que passa sábado a noite embriagado
chorando que nem criança a solidão
quem quer saber de namoro na idade
do pó
um romance romântico de cuba
cheio de dúvidas e desvarios
tal a balada de neil sedaka
quem quer saber de mim na cidade do
arrepio
um poeta sem eira na beira de um
calipso neurótico
um orfeu fudido sem ficha nem
ninguém para ligar
num dos 527 orelhões dessa cidade
vazia
WHO NEEDS A POET ?
who cares about a poet in the age of rock
a guy who covers himself with sorrow and slow letters
who blind drunk spends his Saturday night
crying like a child
who cares about snuggling in the age of coke
a románticos de cuba
romance
full of doubts and
twisted trips
like a neil sedaka ballad
who cares about me in this city of chills
a poet
full of verve on the verge of calypso's nervous breakdown
a fucked up orpheus without change or anyone to call
from all the 527 telephone booths of this desolate city
CIDADE
cidade: parada estranha
aglomerações
linhas cruzadas
engarrafamentos
estranha
cidade parada
cristalização de caos tédio estupor
escornada no espaço
veias abertas pedindo mais mais sempre mais
cidade: paradinha sinistra
babel bélica
bando de gente a ir a algum lugar
nenhum
infinito véu de pulsações
gases desejos dejetos
palavras & balas
perdidas perdidas perdidas
cidade: sinistríssima parada
tudo é recriado e se esfumaça
seus
citroens seu rock and roll
luzes da ribalta refletem na sarjeta
what’s going on
as prensas não podem parar
notícia notícia notícia
revista já vista já velha
reprocessando matéria
clonando idéia
novelha novelha novelha
parada cidade estranha
choque elétrico todo
dia
a dias meses anos
desintegrar - bang big -
numa implosão final
impotentes para formatar
bilhões de bytes
trilhões de raios catódicos
em expressão inteligível
cidade : parada estranha
excesso exagero coisa fumaça
corpo crivado de bits
corpo crivado de bits
corpo crivado de bits
CITY
city: what’s
the point?
crowds
crossed lines
bottlenecks
point-blank
city
crystallized chaos boredom stupor
gored in space
open veins begging more more always more
city: what’s the damn point?
bloody babel
bands of people going somenoplace
immense beating veil
destruction desire despair
words & bullets
astray astray astray
city: what’s the goddamn point?
all of it reborn and smoldering
your citroëns your rock and roll
footlights shine in the gutter
what’s going on?
the presses cannot stop
extra extra extra
magazine once sold is old
news cycles recycled
herds of soap operas
clone clone clone
point-blank
city
electric shock every day
for days months years
to break – bang big – down
in a final implosion
we’re powerless to format
billions of bytes
trillions of cathode rays
into any clear expression
city: what’s the point?
excess thing violence smoke
body riddled with bits
body riddled with bits
body riddled with bits
O BEIJO
todo mundo precisa de
beijo
o ascensorista a
vitrinista
a judoca o playboy
o zagueiro o bombeiro
o hidrante
o hidrante precisa
também
de cuidados água farta
analgésicos e dinheiro
todo mundo precisa de
dinheiro
o maracanã o pavilhão
de são cristóvão
o cristo a pedra da
gávea os dois irmãos
quem não precisa de
dinheiro ?
todo mundo precisa de
beijo
THE KISS
everybody needs a kiss
the guru the kangaroo
the don juan the ingénue
the lineman the fireman the hydrant
the hydrant also needs
care enough water
painkillers and cash
everybody needs cash
the rhode island
philharmonic the arcade
the avon
cinema the coffee exchange
the roger
willians park zoo the brown
who doesn’t need cash?
everybody needs a kiss
……………………………………………………………………
BE SAMPLE
o que se faz a pé
de carro se faz mais
rápido
o que grita ao olho
na tela se agiganta
o que passa na cabeça
ao sample se assemelha
be sample
who can be
i can be
you can be
simple
you can be
I can be
to be can be
sample in the jungle
simple like a window
simple like a window
simples como
um clips
sample in the rumble
simple like a needle
simple like a needle
simples como um níquel
…………………………………………………..
PALAVRA CORPO
a palavra vive no papel
com vírgulas hífens crases reticências
leva uma vida reclusa de carmelita descalça
o corpo aprendeu a ler na rua
com manchetes de jornais
jogadas na cara pelo vento
com gírias palavrões
zoando no ouvido
com gritos sussurros
impressos na pele
a palavra quer sair de si
a palavra quer cair no mundo
a palavra quer soar por aí
a palavra quer ir mais fundo
a palavra funda
a palavra quer
a palavra fala:
- eu quero um corpo !
o corpo sabe letras
com gosto
de carne osso unha e gente
o corpo lê nas entrelinhas
o corpo conhece os sinais
o corpo não mente
o corpo quer dizer o que sabe
o corpo sabe
o corpo quer
o corpo diz:
- fala palavra !!!
WORD BODY
the word lives on paper
with commas, hyphens, contractions, reticence
it has the recluse life of a barefoot
nun
the body learnt to read on the
streets
with news headlines
thrown into its face by the wind
with slang, coarse words
buzzing in its ears
with cries and whispers
printed on its skin
the word wants to come out
the word wants to know the world
the word wants to sound
the word wants to go deep
the word founds
the word wants
the word speaks:
- I want a body !
the body knows letters
with flavor
of flesh bone
nail and people
the body reads between the lines
the body knows the signs
the body doesn’t lie
the body wants to tell what it knows
the body knows
the body wants
the body says:
- speak, word !
RÁPIDO E RASTEIRO
vai ter uma festa
que eu vou dançar
até o sapato pedir pra parar.
aí eu paro
tiro o sapato
e danço o resto da vida.
FAST AND FURIOUS
they're throwing a party
and i'm gonna dance
till my shoe begs me to stop
then i'll stop
take that shoe off
and i'll dance for the rest of my life.
SONIDOS
when
B bóia
behind
clouds
among angelos
listening cosmicmonomusic
HB trança
as agúia põe fim à barafunda
abajourd hui na marmita
requentada nágua
doce dulce dá-se dócil
algas mágoas anáguas n’água
venga curtir uma onda
bit hit bass drums
dream
is now and then
traços
claros calmos
carma man