sábado, 25 de setembro de 2010

LANÇAMENTO RIO - 09 / 09 / 10

livraria da travessa 09 - 09 - 10 - a fila, o ritual, a tourada


eu, nadam guerra, domingos guimaraens

eu, o livro e a blues singer


eu, minha mãe, meu filho



JB 11 / 09 / 10 - COLUNA HELOÍSA TOLIPAN


sexta-feira, 24 de setembro de 2010

PESSOAS FÍSICAS


ademir assunção, marcelo montenegro, fábio brum, marcelo watanabe, esse um, fernanda dumbra = PESSOAS FÍSICAS.letra + música = no campasso. sesc vila mariana, quarta feira - dia 22 de setembro de 2010. boa noite !foto: edinho kumasaka.



+ http://chacalog.zip.net

sábado, 18 de setembro de 2010

cidade partida


tava atrasado. o metrô ia partir.
corri. a porta se fechou. metade de mim
foi. outra ficou.
uma que já era, ficou muito mais ensimesmada.
olhando o relógio, contando dinheiro, falando no celular.
a outra que era já, ficou ainda mais leviana,
levantando a saia das moças, uivando nas estações, vagando entre os vagões.
se alguém encontrar uma delas, avise a outra que eu vou ver se eu estou na esquina. fui.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

ENTRELINHAS



Meu querido amigo Heitor Ferraz, aquele que sabe o poema que faz, me deu mais esse prazer.
aí vai o livro em texto e imagens.
gracias mil, mestre heitor.
fumemos, pois !

cáries


    e os anjos dizem amén ....

as cáries vem e vão, quando não ficam no vão.
mas a felicidade, essa quando vem, animaliza o coração.
não em vão.

tenho recebido muito carinho das pessoas por aí.
a maioria nem leu o livro (só a maria juçá !).
apenas folheou.
apenas leu a matéria q o janjão perpetrou no globo.
mas estão felizes com a existência do livro.
eu tb. eu tb.
vou ali comprar outro chacal
porque já não estou cabendo dentro desse aqui.
a felicidade prolifera.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

                                      



  JB - coluna da heloísa tolipan
 em 10 / 09 / 10

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

                            no pier em 72 com Antonieta e Mirinha


Estou em alfa com as pessoas falando sobre meu livro. Craques das consoantes e vogais como o Janjão e o Fred, só fazem fortalecer a parada. Só posso agradecer penhorado.
.
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TEXTO DE FRED COELHO

O texto abaixo é a versão completa do box que saiu ontem no segundo caderno sobre o novo livro de Chacal, Uma História à Margem (7Letras). Não é uma resenha, nem é uma crítica. Ele é o registro da vontade de chamar todos para participarem das páginas em festa de Chacal. Festa, aliás, que será completa hoje, daqui a pouco, no lançamento do livro, na Travessa de Ipanema.
Assumindo a GROOVY PROMOTION de Sailormoon, digo e repito: achem, comprem e não percam o livro do Chacal. Na escrita curta e eficaz de blocos, a vida é dividida por temas como “Municipal de São Paulo 76”, “Quampérios”, “A Caravana Voadora”, “Os monges acrobatas”, “Expresso voador” ou “Mesa da PUC”. Flutua no texto a fluência de um contador de estórias jogando entre a literatura realista, o relato surreal e a poesia musical. Chacal narra a sua mitologia sem fundar mitos. Da Navilouca ao Clube da Esquina, das livrarias de Ipanema às salas do MAM, do futebol amador ao sítio dos Novos Baianos, do mimeógrafo até a Cosac Naify, do Asdrúbal ao Carioca, da Praia a FLIP.
O livro é também a chance de se entender como uma tradição da cultura carioca foi gerada. Ao lado de outros dois livros – Nuvem Cigana (Azougue) e Asdrúbal Trouxe o Trombone (Aeroplano) – as memórias de Chacal amarram esse importante momento da produção cultural do Rio e do resto do país. Ele nos mostra como as pessoas se encontram, se conhecem, se encantam com ideias e projetos em comum e se juntam para agir enquanto puderem - ou conseguirem. Chacal nos mostra como se cria um compromisso estético coletivo ao redor de uma política da cultura. A política da participação de muitos. Mesmo precária, sempre gregária.
Por fim, outro ponto fundamental: esse é um livro que nos narra de forma concreta o quão complexo é viver profissionalmente apenas, ou quase exclusivamente, da palavra poética, da criação utópica, do risco em nosso país (no mundo?). Nos mostra as derrotas temporárias e as agruras para ser pago, ter recursos, contratos, carteiras assinadas, segurança financeira quando sua matéria prima é a estupefação e palavras que só valem algo quando viram livros. É necessário entender a poesia não apenas como alimento romântico de uma vida à margem, mas também como ganha-pão legítimo do versador.
Comprem, olhem, virem, mexam. E não se esqueçam: Chacal ainda está por aí, inspirando, iluminando e articulando os novos de sempre, que nunca cessam, que sempre estarão pelas ruas da cidade.
A margem dentro do Rio
Rogério Duarte, poeta baiano, filósofo, designer e mestre da Tropicália, anunciava em um poema sobre o grupo de artistas que agitava a cena carioca de 1968: “a margem fica dentro do Rio”. Em À margem da vida Chacal confirma o verso de Rogério mostrando que, no seu caso, essa margem é o próprio Rio. Nessa autobiografia poética (sempre há um poema para iluminar a história), a vida do bardo se confunde permanentemente com a história cultural recente do Rio de Janeiro. Da abertura do texto com sua infância nas ruas de Copacabana na década de 1960 até as últimas páginas apresentando sua tranquila rotina na Gávea em 2010, temos quase quarenta anos de livros, shows, movimentos culturais, leitos hospitalares, carnavais, encontros iluminados e viagens físicas e lisérgicas.
Em uma sequência de tirar o fôlego do leitor, Chacal nos conduz aos idos da poesia marginal no início dos anos 1970, nos lembra da presença de Torquato Neto e Waly Salomão nos jornais e em revistas como a famosa Navilouca, passa pelos os shows de Gal Costa e dos Novos Baianos no Teatro Tereza Rachel e pelas Dunas do barato de Ipanema, até nos apresentar a formação do grupo de poetas que fundam a poesia de mimeógrafo e desembocam no Nuvem Cigana, primeiro coletivo cultural que tentou articular arte e negócios, loucura e mercado. Após o auge do Nuvem – com as Artimanhas, os Almanaques Biotônico Vitalidade, os livros de poemas, o Alert Limão e o bloco carnavalesco Charme do Simpatia – Chacal ainda tem energia criativa para prosseguir sua estrada com novos parceiros e novos lugares, se juntando à trupe do Asdrúbal Trouxe o Trombone ou indo morar temporariamente em Brasília e São Paulo. Nessa última cidade, um atropelamento em plena Avenida Paulista fez com que o poeta voltasse ao Rio de Janeiro para repensar a vida. Mesmo assim, pronto para outra, lá estava Chacal junto do grupo que renovaria a cultura carioca dos anos 1980 com o Circo Voador e todos seus coletivos de música, dança, e teatro. Incansável, Chacal ainda articulava através de seus livros lançados e de velhas parcerias a abertura de novos espaços para performances (ele mesmo teve com o guitarrista Mimi Lessa a dupla Irmãos Abdalla,), narrando o surgimento de trabalhos do porte de, Blitz, Fausto Fawcett (outro peso pesado que poderia escrever uma autobiografia como essa), Marcia X., Chelpa Ferro e muitos outros. Essas ações desaguaram no terceiro momento marcante dessa trajetória: o CEP 20.000. Já como novíssimos parceiros, atravessando duas décadas e mais uma vez ao lado de um coletivo de poetas, artistas, músicos e profissionais da cultura, Chacal atravessa zunindo os anos parados de 1990. Ainda nesse universo, ajuda a fundar o Bangalafumenga, bloco carnavalesco que, ao lado de outros blocos, reativaram o carnaval de rua do Rio de Janeiro. Sem perder o prumo, Chacal arruma tempo e disposição para, ao lado de sua poesia, participar de outros momentos marcantes como a revista O Carioca, e os eventos Freezone, Almanaque e Miscelânia.
Todas as atividades narradas pelo autor amarram uma longa linha de trabalho e militância a momentos decisivos da história cultural carioca. Ao menos na Zona Sul da cidade, tais eventos, livros e revistas foram movimentações que fundaram e definiram gerações de artistas e intelectuais. Louvadas ou criticadas, cheias ou esvaziadas, todas as ações que Chacal se envolveu giraram ao redor da palavra poética, de sua inventividade e, principalmente, de seu risco. Se movendo como pode, por onde dá, quando possível, faz de Chacal um dínamo improvável. Em sua narrativa, poesia, punk rock, futebol, batucada, os meandros do mercado editorial, governos, porres, baixo gávea e baixo Leblon, tudo isso e muito mais apresenta ao respeitável público um novo retrato do marginal. Não mais o 3x4 do B.O., mas a grande panorâmica de um artista em tempo integral.
Enxergando longe da obscuridade que muitas vezes o prendeu no gueto do “alternativo”, terminamos o livro percebendo que, para além das armadilhas conservadoras que estigmatizaram uma geração inteira, o poeta marginal não ficou à margem.
Após a leitura, uma pergunta fica no ar: quem poderá, daqui a trinta anos, escrever um livro como esse sobre a cultura carioca atual?
Escrevendo este post, me veio na cabeça Sérgio Sampaio, outra de muitas das margens desse Rio que Chacal navega até hoje: um livro de poesia na gaveta não adianta nada. Lugar de poesia é na cabeça. Lugar de quadro é na exposição (Fred Coelho)



                          foto: léo aversa


                             OS DIAS DE CHACAL

                                                  João Pimentel ( O Globo)


Chacal começou a escrever poesia para tentar se comunicar. Tímido e disléxico, ele também queria dar o seu testemunho, aos 17 anos, do mundo que o cercava em 1968. E que mundo. Rock’n’roll, Godard,
Tropicalismo, AI-5 povoavam a cabeça do menino nascido nos arredores do Jockey, na Gávea, e criado em Copacabana. A poesia chegou a suas mãos e arrombou a porta de sua vida através de um livro de Oswald de Andrade. Passou a escrever e a mostrar sua produção para Hélio Oiticica, Waly Salomão e Torquato Neto.

Aprovado, seguiu seu rumo. Fez seus primeiros livros com a chamada Geração Mimeógrafo; formou o Nuvem Cigana, coletivo de poetas marginais; flertou com o grupo de teatro Asdrúbal Trouxe o Trombone; quase morreu; escreveu o jornal da estadia do Circo Voador no Arpoador; foi compositor da Blitz; quase morreu de novo; e renasceu no CEP 20.000, evento cult de poesia. O poeta que pulou os muros da vida “para poder ir ver, para poder viver” conta como escreveu por linhas tortas suas várias vidas na biografia “Uma história à margem” (7 letras), que ele lança amanhã, às 19h, na Livraria da Travessa de Ipanema.


A ideia de “Uma história à margem” surgiu por acaso, quando preparava “Belvedere”, livro que reuniu sua obra completa, de 1971 a 2007. Estava num voo rumo a Goiás, onde participaria de um encontro de poesia, quando, após uma escala em São Paulo, Augusto Massi, responsável pela linha editorial da Cosac Naify, por onde o livro seria lançado, sentou-se ao seu lado. Conversa animada, Chacal contou algumas histórias.
Massi gostou e sugeriu que ele aproveitasse suas memórias para ilustrar a antologia. Mas a cabeça em turbilhão do poeta já estava longe. Este seria um outro livro... — Por sugestão dele, na volta para o Rio escrevi algumas histórias. De cara saíram umas 20 páginas. Mas fiquei com a sensação de que o livro de poesia seria sufocado pela biografia — conta.


E a intuição de Chacal também se mostraria certeira. Ele provavelmente teria queimado ali a possibilidade de lançar o ótimo cabedal de sua privilegiada memória, que passou incólume por ao menos duas décadas movidas a poesia, sexo, drogas e rock’n’roll. As 20 páginas foram enviadas para um edital da Petrobras com a intenção da editora de publicá-lo. Aprovado o projeto, o poeta e a Cosac Naify não chegaram a um acordo e o livro sai pela 7 Letras.

Dividido em pequenos capítulos, entremeados por depoimentos e poemas, o livro revela, de cara, dois Chacais fundamentais. Um, o poeta de linguagem direta, popular, inventivo que falou “Vou entrar, vou entrar”, venceu a timidez e começou a formatar a ideia de tirar a poesia dos livros, não declamando, palavra que repudia, mas interpretando, dando sons, imagens, suor, humanizando. Muitos de sua geração pensavam igual, mas talvez faltasse o estopim. E ele foi Chacal, numa feira de arte na galeria da livraria Muro, em Ipanema.

O outro Chacal foi o que se entregou de corpo e alma, literalmente, à produção poética, atravessando movimentos, dialogando com as gerações subsequentes à sua, confablando e transformando o estabelecido, aprendendo com o novo. Talvez poucos tenham atravessado com mais transparência a sua própria existência. E, certamente, poucos dos seus pares toparam o desafio do tempo, da mudança de uma geração tocada pelo espírito libertário em plena ditadura militar — que lutava contra o capitalismo e a cultura do descartável —, e que foi, justamente no período de reabertura do país, atropelada pelo “progresso” anunciado.

O poeta com jeito doce e nome de bicho sempre viveu a fundo suas questões. Se nas artes plásticas Hélio Oiticica quebrava paredes e molduras estabelecidas, se no teatro Hamilton Vaz Pereira sonhava com a arte “fora do edifício-teatro, nas escolas, faculdades, clubes e agremiações”, Chacal e sua turma davam um novo
charme — cabelos compridos, roupas coloridas — à poesia. O próprio Chacal se descreve na contracapa: “Para o mundo acadêmico sou um poeta descartável, de poucos recursos e baixo repertório. Para o mundo pop, um poeta, um intelectual, um crânio. E todos têm ra-zão. Menos eu. Menos eu.”

O poeta que fez um samba para o Suvaco do Cristo — filho do anárquico bloco Charme da Simpatia, da turma da Nuvem Cigana —, homenageando Nise da Silveira (“Saúde não se vende/ Loucura não se prende/ Quem tá doente é o sistema social”), teve a vida marcada por dois acidentes graves, em momentos de crises existenciais e excesso de álcool e drogas, quando sua opção pela li-
berdade se viu atropelada e jogada pela janela.

Em 1978, foi abalroado na Avenida Paulista, bêbado e decepcionado com uma experiência ruim, antes do espetáculo “Trate-me leão”, do Asdrúbal. Alguns dentes perdidos e algumas semanas depois estava de volta ao Rio, de bengala, para um ensaio do Charme. Já em 1987, diretor artístico da boate Barão com Joana, saiu de lá com Cazuza para saideiras, até serem expulsos do último bar. Já de manhã, deixou o amigo em casa, no prédio em que mora hoje, na Gávea, e seguiu, trôpego, em direção ao Horto. Mas, ao ver o muro do Jockey, resolveu pulá-lo. Foi pego por um segurança e trancafiado em uma sala.— Estava em crise, sem dinheiro, sem perspectiva, com um casamento marcado. Depois fui ver que a droga e tudo o mais me fizeram entrar em um processo louco de regressão. E pular o muro do Jockey era voltar para a minha infância, para a minha casa — traduz Chacal. — Quando me vi preso, enlouqueci e pulei da janela. Acordei no Miguel Couto e fui saber de tudo pelo boletim de ocorrência.

As duas quase mortes são vistas como renascimentos. Principalmente a segunda, quando se achava distante de seus pares. Depois do voo cego no hipódromo, na busca pelo seu centro, entre sessões de bioenergética, foi convidado pelo poeta Guilherme Zarvos para uma das Terças Poéticas, evento que propunha um diálogo entre poetas jovens e rodados. Era o embrião do CEP 20.000. E Chacal era a pessoa ideal para fazer essa interface, que já dura 20 anos:— É difícil para mim entender os mais jovens, que não viveram a utopia dos anos 70 e uma ditadura. Não posso exigir dos jovens. Cada ácido que a gente tomava fazia parte de uma busca. Hoje as drogas também atiçam os estímulos sensoriais, mas é o barato pelo barato. Então tento aprender com eles, que têm o poder da vitalidade da juventude.

O mesmo poder que ele tinha quando decidiu ganhar seu pão com poesia e ainda brigar pelo troco:— No primeiro momento, apaixonado pelo livro do Oswald de Andrade, escrevi e mostrei para as pessoas. Depois me vi em um beco sem saída. O que fazer? Não tinha jornal ou agência de publicidade, que poderiam ser caminhos naturais, para trabalhar. Então tive que enlouquecer e dar um jeito de ser poeta.






quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Memórias de Chacal: longa jornada poesia adentro


ter, 07/09/10
por Luciano Trigo
http://g1.globo.com/platb/maquinadeescrever/


É estranho pensar que Ricardo de Carvalho Duarte, o Chacal, está perto de completar 60 anos: é que, permanecendo fiel ao espírito jovem, irreverente e contestador que marcou a sua primeira produção, na década de 70, época da Nuvem Cigana e da geração-mimeógrafo, ele continua escrevendo e vivendo como quem começa, e não como quem conclui, um livro ou uma aventura. Antecipando-se ao número redondo e talvez assustador, Chacal está lançando o livro de memórias Uma história à margem (Editora 7 Letras, 264 pgs.R$39), um balanço informal de sua trajetória como poeta e agitador cultural. A noite de autógrafos no Rio de Janeiro acontece nesta quinta-feira, a partir das 19h, na Livraria da Travessa de Ipanema.


Uma história à margem é o complemento perfeito e em prosa a Belvedere (Cosac & Naify, 384 pgs. R$59), volume que reúne sua poesia completa – 13 títulos ao todo, lançados entre 1971 e 2007. Recapitulando com franqueza as circunstâncias nem sempre fáceis de cada criação, com destaque especial para suas inúmeras viagens (interiores e exteriores), Chacal faz de suas memórias um documento quase sociológico sobre uma geração que, nas brechas e no contrapé da repressão política, conseguiu produzir uma obra relevante e arrojada, levando a poesia para a vida e a vida para a poesia (gente como Cacaso, Ana Cristina César, Waly Salomão etc). Nesta entrevista, Chacal fala um pouco mais sobre sua história e os prazeres e desafios de ser poeta.


- Apesar de todos os percalços, a geração de poetas que apareceu nos anos 70 – você, Cacaso, Francisco Alvim, Ana Cristina César etc – construiu uma obra que teve uma grande repercussão social e cultural. Hoje a impressão que eu tenho é que a poesia dos jovens autores, por melhor que seja, repercute menos. Você concorda? Como analisa isso?
CHACAL: Difícil comparar épocas, contextos diferentes. Talvez a poesia naquele período estivesse muito formal, distante das pessoas e leitores em geral. Então, sem o compromisso com a regra e o cânone, mais próximo do cotidiano nos temas e no tom, em meio a um mar de censura e repressão, nossa poesia aconteceu. simplificando, nossa poesia atingia as pessoas, embora a academia, de uma forma geral, não achasse graça nenhuma. Creio que hoje esse processo se inverteu. os poetas são a própria academia e escrevem para seu pequeno grupo, uma poesia intertextual e canônica. Por outro lado, a poesia das periferias, ligadas ao rap e ao hip hop, falam também de seu gueto e não se universaliza. Ainda assim, são ainda os únicos lugares onde a poesia vigora.
- Você escreve que, no início dos anos 70, os caminhos dados eram a luta armada ou o sistema, ambos impossíveis de trilhar. De que forma esse impasse afetou a sua vida e a sua poesia, na época?
CHACAL: Trazendo a poesia para a vida. A arma do poeta é o poema, tenha ele cunho social ou não. Nossa atitude diante da poesia, apresentando ela ao vivo em grandes artimanhas que se misturavam com o carnaval e o dia-a-dia, nosso contato direto com o leitor /ouvinte, nossa estratégia de evitar as editoras, o sistema oficial elitizado da produção literária, com todos os vícios da produção capitalista de exploração da mão de obra do autor e do apadrinhamento compulsivo. Lutamos sem pegar em armas, sabotamos o sistema pelas bordas, pelas margens
.- Hoje, que não existe mais luta armada (só o sistema), quais são os caminhos possíveis para os jovens? Existem ainda margens para ocupar ou todos os espaços já foram ocupados pela lógica do consumo? Ou, para usar uma metáfora sua, é mais difícil combater o espantalho ou o agrotóxico?
CHACAL: O espantalho é um falso inimigo. Está do lado de fora e não questiona nossos vacilos e fraqueza. Derrotá-lo é uma questão de força, inteligência e persistência. Já o agrotóxico, a droga do mundo pós-industrial, dessa cultura líquida, como quer Bauman, é muito mais difícil de vencer. Ele é invisível, inodoro e letal. Quando assimilado, se transforma em cinismo, em auto-indulgência. Quando você vê, já está usando a voz do dono. Mas creio que com saúde, discernimento e entusiasmo, você consiga achar de novo sua voz. Os jovens de todas as idades saberão sempre onde o calo dói e inventarão seu jeito de dar um jeito.
- Você vai fazer 60 anos em 2011. Como lida com a perspectiva da velhice? O que a idade traz de bom e de ruim, para a vida e para a obra?
CHACAL: A idade faz mal aos olhos. Em compensação encorpa a voz. Nossas paranóias da juventude se transformam em tiques nervosos. O tempo é fundamental para você adensar sua obra, capinar seu caminho de pregos e espinhos. depois de um tempo, é só juntar tudo, colocar num saco, jogar fora e virar vilão de teatro infantil. Mmmoooouuuuhhhhh!!!!!
- A questão das drogas, associadas na época da ditadura à contestação e a uma atitude libertária, contracultural, hoje é inseparável da questão do tráfico como crime organizado. Como você analisa isso?
CHACAL: As drogas continuam por aí. O que mudou foi nossa crença em mudar o mundo. Antes a droga era combustível para tal. Hoje, com o mundo mudado, a droga se transformou em mais uma mercadoria, uma forma terminal de tapar o imenso vazio.
- De todas as viagens que você narra no livro, quais foram as mais marcantes para você, e por quê?
CHACAL: A viagem para a Inglaterra em 1972/73 foi uma delas. Por ter visto Allen Ginsberg, o melhor do rock na época e ter vivido em um país rico e civilizado, meu sonho da contracultura. Mas toda viagem é uma viagem. Depende dos seus óculos.
- Sobre o episódio da queda no Jóquei, no qual você foi parar no hospital, que lição ficou? [em 1987, depois de uma "noite de saideiras" com Cazuza, Chacal teve a ideia de pular o muro do Jóquei Club.Trancafiado numa sala por um segurança, saltou da janela e foi parar no Miguel Couto]
CHACAL: Quando cair de uma certa altura, flexione os joelhos. Antes de querer voar, aprenda a andar na terra.
- O problema do desafio de viver, materialmente falando, da poesia, atravessa todo o livro, com crises e dívidas recorrentes. Ao longo das décads isso mudou? A literatura está mais profissionalizada hoje, ou a realidade continua inviável? Como essa situação poderia melhorar?
CHACAL: Acho que a performance trouxe novo oxigênio para a poesia. Assim com o rap e a música popular, tem um público não-especializado, de não-literatos. Isso abre o mercado para o poeta. Mas para aumentar a demanda teria que ter uma ação conjunta, estado-escola-mídia-editoras-poetas. O Estado, com o PNBE (Programa Nacional de Biblioteca Escolar), ajuda mais as editoras que propriamente a popularização da poesia. Poetas, escritores de diversos estilos e gerações, têm que ir às escolas, conversar com os alunos, falar de seus trabalhos e ouvir os trabalhos dos alunos, estimulados pela escola a ler e criar. Essa troca é fundamental. Ela criou o CEP 20.000, um sarau multimídia, que é um excelente modelo de disseminação poética. Educação e cultura são uma coisa só. Aumentando o interesse pela poesia, a mídia e as editoras vão se interessar em programá-la e publicá-la. Como aconteceu com o rap. Os poetas poderiam ajudar se tivessem um pouco mais intenção de se comunicar do que apenas expressar suas caraminholas.
- Com que poetas vivos você dialoga hoje? Como enxerga a produção poética brasileira contemporânea, de uma forma geral?
CHACAL: O poeta é bicho difícil de dialogar, mas gosto de vez ou outra encontrar o Gullar, o Cícero, o Eucanaã, o Carlito Azevedo, o Heitor Ferraz, o Chico Alvim, o Zuca Sardana, o Ricardo Aleixo, a Angélica Freitas. A produção contemporânea vai bem, obrigado. A exuberância do CEP, depois de 20 anos, é reflexo disso. A nova geração está conseguindo juntar as experiências de vida dos anos 70 e o acabamento mais elaborado do novo milênio.
- Tem outro livro a caminho? tem algum poema inédito que você possa antecipar?
CHACAL: Tenho escrito volta e meia. Um dos poemas que gosto de fase mais recente e que ainda está em processo é:


FELIZ 2008

narrar um assassinato
é quase tão difícil como dizer que te amo

como falar do sangue que se esvai ou
vc cantarolando numa aléia do horto de vestido florido
como descrever o terror dos olhos e o grito sequelado ou
vc vendo tv de calcinha de algodão
como dizer da arma ainda quente ou
seu corpo mole na cama

essas coisas do amor e do ódio
são impossíveis de narrar.
         chacal

sexta-feira, 3 de setembro de 2010









caro, cara,


é com um prazer formidável que convido você para conhecer uma longa viagem de mais de 40 anos numa turbulenta e adorável navilouca que nesse livro apresento com a imprescindível ajuda de muitos amigos e amigas que nesse mundo tive a graça de conhecer,

********
RUAS

há mais de meio século
ando por aí
há cinquenta e nove anos
cruzo rio brasília
londres são paulo
cidade do méxico lisboa
amsterdan nova york
a pé

mix
de finalidade interior
e casualidade exterior
tudo me interessa

os olhos
não usam viseira
nem os ouvidos
capota
o nariz
eu trago atento
o tato
bem apurado

absorvo impressões
de outros
que caminharam
por mim
em minha caminhada
pelos outros

paisagens
urbanas
suburbanas
superurbanas
me constroem
o tempo todo
em que eu
ando e paro
paro e ando
reparando
do que é feito
o conteúdo
da caixa preta
do planeta

(chacal / belvedere / 2007)

quinta dia 9, estarei lá na livraria da travessa, em ipanema, para o abraço e as cordiais garatujas.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

LANÇAMENTO SÃO PAULO





     flyer do lançamento no bar balcão


matéria na ilustríssima com título errado


Chacal publica suas memórias e defende a utopia de viver de poesia


MAURICIO STYCER   
 Chacal vai completar 60 anos em 2011. Desde os 20, vive de poesia. Alguém poderá dizer que vive de brisa. Engano. Suas memórias, que acaba de publicar, mostram como se colocou na linha de frente dos principais movimentos culturais nas ultimas quatro décadas no Rio de Janeiro.

Como protagonista ou coadjuvante, na frente do palco ou nos bastidores, Chacal associa seu nome a diferentes mídias, da literatura ao teatro, da música ao circo. Junto com o grupo Nuvem Cigana, foi um dos responsáveis pela eclosão da chamada poesia marginal, no início da década de 70. Também trabalhou com o grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone, participou do Circo Voador nos seus primórdios, fez letras de música para a Blitz e criou o espaço CEP 20.000, entre muitas outras atividades.

Seu livro se intitula “Uma História à Margem” (Editora 7 Letras, 252 págs, R$ 39,00) título que diz respeito à utopia que move Chacal nestes 40 anos – a de fazer arte sem compromisso com o mercado. É, como diz, “seu vício e ofício”. Em todo o percurso, entre acertos e erros, entre conquistas e acidentes, parece movido exclusivamente por este ideal.

“Uma História à Margem” é também uma espécie de “quem é quem” da cultura alternativa nas últimas quatro décadas no Rio de Janeiro. Chacal fala de centenas de pessoas com que se relacionou ao longo do tempo – em artimanhas, eventos e performances poéticas, teatrais e circenses.

Chacal ilustra episódios de sua trajetória com poemas que escreveu a respeito, dando ao livro também o caráter de antologia poética. A propósito, sua obra completa está reunida no belíssimo “Belvedere”, publicado pela Cosac Naify e 7 Letras, em 2007. Uma primeira reunião de seus livros da década de 70 está em "Drops de Abril", editado pela Brasiliense em 1982 dentro da famosa coleção Cantadas Literárias.


“Creio que me tornei poeta justamente para me comunicar com as pessoas sem necessariamente estar com elas”, escreve Chacal em suas memórias. Abaixo, ele responde a algumas perguntas do UOL:

UOL - Por que você resolveu escrever suas memórias? Não é cedo? Você ainda tem muito chão para percorrer, não?
CHACAL - A gente corre pra lá e pra cá feito barata tonta. De vez em quando, é preciso parar para acertar o prumo. Em 2011, faço 60 anos. Publiquei há pouco minha poesia reunida – “Belvedere”. Estava na hora de começar a contar história. para ajudar quem está chegando, para perceber melhor o percorrido e começar o segundo tempo.
UOL - Você fala mais de uma vez da sua timidez, dislexia, dificuldade de estar com as pessoas, mas lendo o livro dá pra ver que você está em todos os lugares, com todo mundo. Imagine se você não fosse tímido...
CHACAL - A solidão é uma árvore frondosa, mas infrutífera. É preciso correr atrás para se alimentar. Conhecer as pessoas, trabalhar com elas, é meu prato predileto. Mas vez por outra, volto pra minha sombrinha.
UOL - Em termos culturais, pensando no Brasil, qual você acha que é o maior legado dos anos 70? E da década de 80? São períodos intensos, como se pode ler no livro, mas são importantes, ricos, do ponto de vista cultural?
CHACAL - Difícil falar de cultura fora de seu contexto. Fizemos a cultura possível num período de repressão e censura. Foram anos de atitudes, de descobertas, de sobrevivência na selva dos coturnos. Um tempo mais de gritos e sussurros do que da palavra plena articulada. Um tempo de mudança de paradigmas radical onde a arte dava lugar ao entretenimento e à indústria cultural. Tivemos que gritar a plenos pulmões para sermos ouvidos.
UOL - Você fala muito em utopia, na sua utopia, e do conflito com a realidade "do sucesso e da grana", "cultura do mercado". É possível fazer arte nesta realidade?
CHACAL - Criar é a maior especiaria da natureza humana. Mas não se cria do nada. A criação vem das coisas que você observa, mixadas às coisas que você adquire. Num mundo que tem outros valores que os seus, fica mais difícil ser ouvido. Dane-se o mundo. Só crio com o que eu creio.
UOL - Olhando pra trás, para esses 40 anos, você se arrepende de algo que fez? Ou que deixou de fazer?
CHACAL - Arrependimento não faz parte do jogo. Cada tempo, cada cabeça, uma sentença.

lançamento no BAR BALCÃO em São Paulo ( 23 / 08 / 2010)


eu e fernanda d'umbra

eu e lúcio agra trocando livros

eu, lúcio agra e jorge viveiros

eu e pierre masato




lançamento rio / livraria da travessa ipanema / 9 de setembro de 2010